Friday, February 21


   Apaixono-me por detalhes. Algo que, aos olhos de outra pessoa, seja completamente banal, encanta-me. Cada movimento, por mais involuntário que seja, cada sorriso tímido, a forma como os olhos se movem.. tudo revela algo. Cabe-nos o papel de admirarmos e decifrar-mos o quê (de longe de preferência, de modo a não parecermos psicopátas).
Penso muito nos detalhes. Chego a questionar-me se sou mesmo louca por tentar analisa-los tanto quando, na verdade, podem vir a significar rigorosamente nada. Mas eu não acredito nisso.
Continuo a deixar esses detalhes, esses momentos, essas lembranças correr. Pode ser que, eventualmente, acabe por me fartar, mas sinceramente, duvido muito disso. Gostava de não ter lembranças. Gostava de as poder desligar, porque é em momentos como estes, melancólicos, que me deixam ainda pior. Gostava de as reviver mentalmente só quando voltasse a estar feliz. Não sei quanto tempo irá demorar até o voltar a ser, demore o tempo que demorar, há-de compensar. Tenho que manter o espírito positivo sempre, não é? Afinal de contas, pensamento positivo gera coisas positivas. Mas para quê continuar com todas estas palavras, de certa forma, hipócritas, da minha parte? Não me sinto bem, mesmo nada bem.
Sinto-me sozinha, para variar um bocado. Custa-me despedir-me de ti, repetidamente, na minha cabeça. Afinal, quantas vezes temos de nos despedir? Gostava simplesmente de fechar a porta e tranca-la a sete chaves.. não sei se isso algum dia será possível. Tendo sempre a destranca-la, severamente arrependida, e a desculpar-me por actos dos quais não tive culpa alguma. E sabes.. é algo do qual me arrependo amargamente. Arrependo-me de me arrepender, sempre. Arrependo-me de desculpar os teus actos, sobrepondo com os meus. Arrependo de me culpar sempre. Mentalmente.Arrependo-me, especialmente, de me rotular como uma rapariga inútil, apesar de, no fundo, isso ser um pensamento que sempre me pertenceu. Odeio que me faças sentir assim. Como um bocado de lixo. Como se não valesse nada. Porém, não vale a pena remar contra a maré. Vou simplesmente continuar aqui a despejar todos os meus pensamentos que me atormentam diariamente. E tu nem sabes o quanto penso em ti.. e tenho pena de não saberes. Ou então não! Talvez seja melhor assim. Talvez o meu mal tenha sido mesmo eu ter frisado tanto o facto de te amar e de desculpar sempre os teus erros, seja de que escala de gravidade fosse. Odeio-te. Amo-te. Não sei.
Sinto-me bem ao escrever aqui. Não tenho medo de dizer o que sinto - embora não esteja a dizer, e sim a escrever -, sinto que ninguém me irá julgar ou verbalizar aquela palavra que tanto temo ouvir: "chata!". Às vezes é assim mesmo que me sinto, portanto, fico apenas por ouvir os problemas dos outros seres que acham ter problemas significantemente graves. É bom ter esta liberdade de expressão. Sinto-me no meu cantinho, no meu abrigo, pois sei que ninguém suficientemente importante irá opinar. E do que é que serve isso mesmo? Opinar sobre a vida das outras pessoas? Não passam de escolhas.
Quando tiveres, por ventura, um tempinho "livre", gostaria que lesses todos estes meus textos. Talvez um dia leias ocasionalmente! Quem sabe se tudo isto não poderá, algum dia, vir a ser publicado como o "Diário de Anne Frank"? Não sei se gostaria. A não ser que já estivesse enterrada. Aí não viveria com este medo de ouvir todas as opiniões das pessoas sobre o que digo, faço, defendo, gosto.. Afinal, do que serve isso mesmo? Opinar? Não serve.
E é só isto. Apaixono-me por detalhes. Continuo a deixar esses detalhes, esses momentos, essas lembranças correr. Pode ser que acabe por me fartar.

No comments: